top of page
  • Foto do escritorThales Mendes

Análise da semana: Happycracia | Fabricando cidadãos felizes

Já falei por aqui que um dos temas que mais me interessam é saúde mental. Já algum tempo eu olho com carinho para a minha e sempre que possível tô lendo alguma coisa sobre. Com isso em mente, me deparei com o Happycracia | Fabricando cidadãos felizes, escrito pelo psicólogo Edgar Cabanaz e pela socióloga Eva Illouz e com um NOTÃO (4.75, se não me engano) no Goodreads.


O livro é uma reflexão profunda sobre como a Felicidade é encarada nos dias de hoje. Os autores explicam a popularização da Psicologia Positiva, que trouxe a noção de que a felicidade é o maior objetivo da vida e que alcançá-la depende apenas da nossa força de vontade. Existe uma forte crítica por parte deles aos estudos da Psicologia Positiva e à noção de que eles são pautados em descobertas científicas inovadoras quando, na verdade, a história nem sempre é assim. Separei os pontos que mais me chamaram a atenção e tô listando aqui: 1) A sua felicidade só depende de você

Como eu disse, tenho me esforçado bastante pra cuidar melhor de mim. Invisto na construção de hábitos que julgo mais saudáveis e acho que leitura, meditação e terapia me ajudam a ter uma visão mais leve da vida. PORÉM (ah, porém...) o livro traz uma visão muito interessante dessa reflexão. Entender que a felicidade é uma coisa individual pode ser extremamente problemático porque:

  • isso dá a entender que a felicidade não depende do contexto em que você está inserido: ou seja, não importam as suas condições financeiras e sociais, não importa se você cresceu num lar seguro ou não, nada disso. Se você não é feliz, a culpa é sua. Isso leva à uma ideia de meritocracia da felicidade que pode, na visão dos autores, criar e agravar ansiedades e outros sintomas que antes não existiam. Se a minha felicidade é minha responsa e eu não sou feliz, logo a culpa é minha. Problemático, né?

  • esse discurso ganha força e poderosos aliados, principalmente nas empresas e na política. Afinal de contas, se a sua felicidade é uma busca individual, então o quanto o chefe ou o presidente podem realmente fazer alguma coisa pra melhorá-la, né? Não importa, portanto, o seu salário, o ambiente em que você trabalha, ou o nível de segurança do seu bairro. Tudo isso é supérfluo pra quem pensa positivo. Dá pra entender por que um discurso como esse pode fazer sucesso, não dá?

2) A Felicidade é um produto A Psicologia Positiva parece ter estabelecido que a Felicidade é um senso comum. Todo mundo precisa ser feliz, quer ser feliz, consegue ser feliz e, pra fazer isso, basta pensar positivo e cuidar de si próprio. Caso você não consiga, tá aqui um livro/seminário/retiro/coach pra te ajudar a alcançar. Além disso, você nunca completa esse curso. Sempre dá pra melhorar algum aspecto da sua vida, sempre dá pra ser mais feliz. Dessa forma, estamos falando de um produto cujo ciclo nunca acaba, do qual você nunca se livra. 3) Sentimentos positivos são bons. Sentimentos negativos são ruins. Isso também é super problemático. A Psicologia Positiva tende a ressaltar os pensamentos positivos, o jeito positivo de ver a vida, nos levando a praticamente ignorar sentimentos negativos. Porém, como os próprios autores lembram no livro, sentimentos negativos não necessariamente são prejudiciais. Além do fato de que todos nós precisamos passar por coisas negativas, sentir coisas negativas e crescer a partir disso, os autores trazem também uma visão mais macro: segundo eles, grandes movimentos nascem numa sociedade a partir do senso coletivo de injustiça, por exemplo, ou mesmo de ódio. Quando sentimentos negativos são expostos e compartilhados, grandes mudanças podem acontecer. Quando são esquecidos, e quando somos ensinados a olhar só pra gente, só pra nossa busca interior, o que é que pode ser mudado, no fim das contas? Conclusão.. Esse é um resumo bem básico sobre Happycracia e eu provavelmente deixei muita coisa interessante de fora. Trouxe o que me chamou atenção aqui porque a Felicidade é uma busca na minha vida e eu confesso que não tinha parado pra pensar em muitas das reflexões que li nesse livro. O que vale ser dito é: ninguém é contra a Felicidade. Ninguém é contra a nossa busca pela felicidade. Mas é importante que a gente se pergunte se essa busca é nossa mesmo ou se é alguém que tá nos mandando correr atrás de algo que a gente nem tem certeza se quer, ou como quer. Será que estamos correndo atrás de uma falsa promessa de Felicidade, que tá ali, naquela esquina, logo depois daquele curso ou daquele livro? E, por fim: o quanto a Felicidade é uma coisa individual? O quanto eu consigo ser feliz sozinho, sem levar em conta o lugar onde eu nasci, a cor da minha pele e o quanto de dinheiro eu tenho no banco?




Posts recentes

Ver tudo
bottom of page